Proposta de intervenção fora do Enem: cuidado com esse vício!
- professoramarisafr
- 14 de mai.
- 3 min de leitura
Se você já escreveu alguma redação dissertativa com “ação + agente + modo + efeito + detalhamento” na conclusão, bem no estilo Enem, respire fundo e leia este post com carinho. Vamos esclarecer um ponto importantíssimo: nem toda dissertação exige proposta de intervenção.
A proposta virou um vício de estrutura, adotado até quando o comando da prova não pede. E o pior: alguns professores ensinam a inseri-la como se fosse obrigatória em qualquer conclusão, o que pode acabar baixando sua nota em outras bancas.
Hoje, vamos desfazer essa confusão.
A estrutura da dissertação fora do Enem
A dissertação-argumentativa padrão (como ensinada nos vestibulares tradicionais e concursos) tem uma conclusão objetiva, sem proposta de intervenção. A função da conclusão é simples:
✅ Retomar a tese (de forma reformulada)
✅ Sintetizar os argumentos principais
Nada de planos mirabolantes para mudar o mundo.
👉 Exemplo de conclusão sem proposta:
Portanto, observa-se que a banalização da violência nos meios de comunicação contribui para a naturalização da agressividade no cotidiano. Logo, retomar o papel da mídia como formadora de opinião é fundamental para reverter esse quadro.
Perceba: não há sugestão de ação, e ainda assim, é uma conclusão redonda, clara e adequada. Se o comando não pediu proposta, não invente.
Por que a proposta se popularizou?
Culpa (ou mérito?) do Enem.
O Enem transformou a proposta de intervenção em um critério obrigatório de avaliação, com peso real na nota. Muita gente passou a associar a proposta à “boa redação”, e isso contaminou outras práticas. Só que em outras provas, ela não é esperada e pode até ser penalizada se parecer deslocada ou incoerente.
Quando a proposta é de fato necessária?
Você só deve apresentar uma proposta se o comando solicitar explicitamente uma solução, sugestão ou proposta.
Vamos ver alguns exemplos de comandos reais:
Cebraspe (CESPE)
Comando:
Quais fatores contribuem para o uso irracional de medicamentos no Brasil? Como a atuação do farmacêutico pode contribuir para a mudança desse cenário? Que medidas devem ser adotadas pelo Estado e pelas instituições de saúde para fortalecer o papel do farmacêutico no SUS?
✅ Aqui, sim, cabe uma proposta. Mas atenção: a banca quer soluções viáveis e argumentadas, não precisa da estrutura rígida do Enem. Nesse caso, é obrigatório abordar medidas e estratégias — tanto em termos argumentativos quanto, eventualmente, na conclusão.
Conclusão possível:
Portanto, para fortalecer o papel do farmacêutico no Sistema Único de Saúde (SUS), é fundamental que o Estado e as instituições de saúde invistam em medidas estruturantes e integradoras. Assim, é necessário ampliar a presença de farmacêuticos em todas as unidades básicas de saúde, garantindo condições adequadas de trabalho e inserção efetiva nas equipes multiprofissionais. Por fim, políticas públicas devem priorizar a educação continuada desses profissionais, promovendo capacitações sobre atenção farmacêutica, farmacovigilância e orientação ao paciente.
📌 Repare: tem solução, mas sem aquela estrutura engessada. O importante é que a proposta esteja alinhada ao texto e atenda ao comando.
FGV
A Fundação Getulio Vargas costuma ser mais direta. Muitas vezes, ela coloca a resolução do problema como parte do próprio tema, o que muda completamente a lógica da conclusão.
Exemplo de tema:
O combate às fake news no Brasil: como enfrentá-las sem comprometer a liberdade de expressão?
Perceba: a banca já quer uma reflexão resolutiva desde a introdução. Sua tese já precisa trazer um posicionamento equilibrado entre combater fake news e preservar direitos. Assim, a conclusão apenas retoma essa solução.
Conclusão possível:
Em síntese, o combate às fake news deve ocorrer com rigor, mas sem violar a liberdade de expressão. Para isso, é fundamental o investimento em educação midiática e em mecanismos legais transparentes, que punam a desinformação sem censura.
🧠 Aqui, a “proposta” está diluída no desenvolvimento e retomada como desfecho — não precisa ser destacada em um parágrafo separado.
Dica final: leia o comando com atenção cirúrgica!
Antes de escrever sua redação, grife o que o comando está pedindo. Isso vai te salvar de dois erros muito comuns:
❌ Enfiar proposta onde não se pede
❌ Ignorar a proposta onde ela é obrigatória
Um bom escritor é também um bom leitor de enunciado. Redação boa não é a que segue fórmula, é a que responde à proposta com clareza, estratégia e coesão.
Em resumo:
Proposta de intervenção = característica do Enem.
Fora dele, só aparece quando o comando pede.
A conclusão padrão da dissertação sintetiza e retoma a tese.
Cada banca tem um estilo. Estude o perfil da prova e escreva com precisão.
🔔 Gostou desse conteúdo? Compartilhe com alguém que ainda acha que toda conclusão precisa ter “ação + agente”! E se quiser aprender a adaptar sua redação a qualquer banca, te espero no Letras & Linhas.
Comments